http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/6477_3977.pdf
O IMAGINÁRIO INFANTIL: A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NO
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
NASCIMENTO, Mary Celina Barbosa
do –
UEMG Marye-celina@hotmail.com
LOPES, Telma Jannuzzi da Silva - UEMG telmajannuzzi@terra.com.br Eixo Temático:
Educação da Infância Agência Financiadora: PIBIC/UEMG/CNPq
RESUMO: Como os professores utilizam os contos de fadas na Educação
Infantil? Que valor eles dão a este gênero literário? Essas questões tiveram o
objetivo de analisar as representações sociais docentes sobre os contos de
fadas no desenvolvimento da criança de quatro a seis anos, durante o ano de
2010 e 2011, em Barbacena. O estudo e pesquisa foram assim estruturados: o
percurso histórico e origem da literatura infantil; a influência dos contos de
fadas no desenvolvimento da criança, a fantasia e o cognitivo; e a pesquisa das
representações sociais feita em um questionário semi-estruturado sobre a sua
utilização no fazer pedagógico e sua importância como auxiliar docente.
Fundamentou-se na Teoria das Representações Sociais de Moscovici. Como
resultado registrou-se que os docentes reconhecem os contos de fadas como
fórmula mágica capaz de envolver a atenção das crianças, despertando-lhes
sentimentos e valores intuitivos. Ressaltam que a criança compactua esse
aprendizado através de elementos carregados de simbolismos. Afirmam trabalhar
com os contos de maneira lúdica: em teatro, varal de histórias, fantoches,
dramatização através das aulas de literatura e cantinho da leitura, mas
demonstram preocupação com o nível de fantasia dos mesmos frente à realidade.
Os contos de fadas são utilizados como se fossem conteúdos de aprendizagem.
Foram nomeadas como representações deste grupo as evocações: fantasia,
imaginação, crescimento, superação, valores, encantamento, sentimento, conhecimento,
felicidade, criatividade, esperança, infância, ludicidade, liberdade, mistério.
PALAVRAS-CHAVE: Contos de fadas- Representações Sociais – Desenvolvimento
emocional da criança
Introdução:
O impulso de contar histórias nasceu com o
homem, no momento em que este sentiu necessidade de comunicar suas experiências
aos outros. Depois de terem exercido sua função 16426 civilizadora e formadora,
estas histórias orais, que contêm experiências da humanidade se transformaram
em obras imortais da literatura universal, perpetuadas em livro. A Literatura
Infantil talvez seja o gênero que mais guarde proximidade das narrativas orais
que tanto encantaram os homens. Grande parte da narrativa infantil manifesta
ainda a autoridade do contador que efetivamente possui experiência comunicável
e a clareza que dela decorre, por isso a literatura infantil é capaz de manter
acesa a tradição milenar de contar histórias, nas quais o mito, a lenda, os
contos de fadas permanecem vivos tal qual estavam nas narrativas orais dos contadores
ancestrais. Os contos de fadas são sempre atuais, muito embora estejam
atrelados à realidade sócio-econômica da Europa medieval. Satisfazem as emoções
porque mapeiam impulsos e temores conscientes e inconscientes e delineiam
experiências reais. Lidam com problemas universais, atacam ideias preconcebidas
e defendem causas perdidas. Darnton (1988) entende que a origem dos contos não
pode ser datada com precisão, porém evidências históricas indicam que já havia
referências a eles, nos sermões dos pregadores medievais, pois: os pregadores
medievais utilizavam elementos da tradição oral para ilustrar argumentos
morais. Seus sermões, transcritos em coleções de “Exempla” dos séculos XII ao
XV, referem-se às mesmas histórias que foram recolhidas, nas cabanas dos
camponeses franceses, pelos folcloristas do século XIX. Referindo-se a outros
estudos, Darnton pontua que embora não se possa determinar no tempo e no espaço
a origem dos contos de fadas, já existia uma Cinderela chinesa, desde o século
IX, esta inconfundível com a heroína de Charles Perrault, um dos primeiros a
registrar os contos populares franceses. Mesmo assim, não se pode falar em uma
mitologia universal, pois no caso dos contos franceses tradicionais existem
características peculiares que os diferenciam de outros contos, como os
ingleses. Em cada território os contos enraizaram-se de forma particular. As
versões dos contos de fadas criadas e difundidas pelo povo da França
representavam o modo de pensar dos seus contadores, os camponeses franceses. A
primeira obra direcionada ao público infantil foi uma coletânea de cantigas
infantis, publicada por Mary Cooper em 1744. O seu título era: “Para todos os
pequenos senhores e senhoritas, para ser cantado por suas babás até que possam
cantar sozinhos”. Uma segunda coletânea foi intitulada “Melodia da Mamãe
Gansa”, de John Newbery, datada de 1760. Considerado por muitos o primeiro
autor a escrever para crianças, no século XVII o francês Charles Perrault foi o
primeiro a coletar e organizar contos de fadas em um livro. Perrault 16427
ouvia as histórias de contadores populares, e então as adaptava ao gosto da
corte francesa, acrescentando ricos detalhes descritivos, bem como diminuindo
os trechos que conotavam os rituais da cultura pagã popular ou fizessem referências
à sexualidade humana (pois vivia sob o contexto de conflito religioso entre
católicos e protestantes à época da Contra-Reforma Católica). Também, ao final
da narrativa, escrevia, sob a forma de versos, a “moral da história”,
traduzindo sua preocupação pedagógica, segundo a qual as histórias deveriam
servir para instruir moralmente as crianças. (Ou seja, desde o seu primeiro
registro por escrito, os contos de fadas já começaram a ter seus detalhes de
enorme riqueza simbólica deturpados.) Os irmãos Grimm, também, escreveram suas
versões sobre os contos de fadas, depois que estes enraizaram na Alemanha,
através da imigração dos huguenotes franceses ao tecer análises sobre
interpretações de outros estudiosos acerca do conto, Chapeuzinho Vermelho.
Estes conseguiram, juntamente com “O gato de botas”, “Barba Azul” e algumas
poucas outras histórias compiladas por Jeannette Hassenpflug, vizinha e amiga
íntima deles, em Cassel; onde ela ouvira as histórias de sua mãe, que descendia
de uma família francesa huguenote. Os huguenotes trouxeram seu próprio
repertório de contos para a Alemanha, quando fugiram da perseguição de Luís
XIV. Mas leram-no em livros escritos por Charles Perrault, Marie Catherine
d’Aulnoy e outros. Assim os contos que chegaram aos Grimm através dos
Hassenpflug não eram nem muito alemães nem muito representativos da tradição
popular. Os contos de fadas caracterizam-se pela presença do elemento fada.
Etimologicamente, a palavra fada vem do latim fatum destino, fatalidade,
oráculo. Tornaramse conhecidas como seres fantásticos ou imaginários, de grande
beleza, que se apresentavam sob forma de mulher. Dotadas de virtudes e poderes
sobrenaturais, interferem na vida dos homens, para auxiliá-los em
situações-limite. De acordo com Tavares conforme seu papel ou circunstância
apresentam-se ora como mulher deslumbrante, vestida, ora como velha feiticeira
coberta de andrajos. Cândida, fada linda e bondosa, e Carabossa, feia e má,
simbolizariam esses tipos. Como insígnia, traz a primeira uma vara (a vara de condão)
e empunha a segunda um cajado ou bastão. Poderiam encarnar o Mal e apresentarem
como o avesso da imagem anterior, como bruxas. Vulgarmente, se diz que fada e
bruxa são formas simbólicas da eterna dualidade da mulher, ou da condição
feminina. O enredo básico dos contos de fadas expressa os obstáculos, ou
provas, que deveriam ser vencidas, para que o herói alcance sua autorealização
existencial, seja pelo encontro de seu verdadeiro eu, seja pelo encontro da
princesa, que encarna o ideal a ser alcançado. 16428 Os contos de fadas são um
patrimônio da humanidade. Eles foram escritos em outra época, e a criança
consegue compreender isso. Porém, muitos clássicos infantis foram se
modificando através dos tempos, as histórias mudaram de acordo com a cultura e a
época, havendo muita diferença dos Contos de Fadas originais para os atuais. A
tendência em retirar o mal, o medo e o castigo de certas narrativas são fortes
nos dias de hoje. As mudanças de enredo apaziguam as emoções que precisam ser
vividas. Atualmente a psicanálise e os estudos das manifestações culturais
contribuem para o renascimento do interesse pelos contos de fadas. Diz Marina
Warner (1999, p.453) que “após a guerra de 1939/45, a aprovação psicanalítica
dos contos de fadas como sendo altamente terapêuticos e educativos [...] sem
dúvida contribuiu para esse retorno à respeitabilidade, e daí a fruição, de
reinos encantados ilusórios”. Nos contos, a curiosidade, embora castigada, é
incentivada. Eles mostram o despertar erótico, a iniciação sexual, a esperteza
e a malícia. É feminista, abrindo espaço para a mulher comunicar suas ideias.
Ao mesmo tempo em que defendem aspirações tradicionais, minam ensinamentos
convencionais. Desafiam ideias estabelecidas e levantam questões na mente do
ouvinte. Apresentam uma justiça poética: o filho mais novo, mais tolo, mais
desvalorizado pela família e pela comunidade é quem se casa com a princesa.
Falam de medos, de amor, da dificuldade de ser criança, de carências, de
autodescobertas, de perdas e buscas, da vida e da morte. Alia-se a isso o fato
de que os significados mudam de acordo com a necessidade ou o desejo do leitor.
São sempre atuais, também, porque se envolvem no mundo maravilhoso partindo de
uma situação real; lidam com emoções; passa-se em tempo e lugar indefinidos; as
personagens são simples e vivenciam situações diferentes, resolvem conflitos
nos quais buscam a cumplicidade da criança através do imaginário em que bruxas
e fadas atuam como elementos mágicos. O cotidiano abordado na literatura
infantil mostra os conflitos e as relações que a criança vive na escola, no
clube, em casa, na natureza, com amigos, família etc., mas o faz no sentido de
reduzir este conflito a um núcleo-base facilmente resolvido. Isso faz com que o
conflito perca sua dimensão moderna, que pressupõe aspectos psicológicos e
sociológicos densos. Os contos de fadas transmitem em suas histórias, valores
como a humildade, o respeito além de formar, informar transmitir saberes,
lições e principalmente, afeto - esse signo que deveria reger todos os
relacionamentos, todas as ações, todos os vínculos. Todo conto de 16429 fadas
possui uma mensagem significativa, um ensinamento uma ideologia e isto são
indispensáveis na formação da personalidade, do caráter e da educação. Seu
caráter utilitário resulta das condições de sua produção. Ele é produzido pelo
adulto, que toma como referência o mundo adulto, projetando para a criança um
mundo idealizado, como se esta não pudesse perceber ou pensar. No processo
dinâmico da construção de conhecimento o que se pretende da criança é que ela
realize plenamente as suas potencialidades, que transponha os seus próprios
limites, que se desenvolva. O desenvolvimento acontece num processo de
aprendizagem contínua, em que a criança vai incorporando novos conhecimentos,
habilidades e valores próprios da sociedade em que ela vive. Desenvolvimento
aqui se refere ao crescimento progressivo da criança nas funções da atenção,
memória, raciocínio, linguagem, escrita, autoestima e capacidade de
relacionar-se com outros. As aprendizagens que a criança conquista através das
suas vivências interferem na sua conduta, no seu modo de agir e de responder
aos desafios da vida continuamente, dia após dia. Os limites estabelecidos pela
consciência daquilo que se sabe diante do que não sabe, são desafiantes; é a
própria desordem das certezas cognitivas e ao mesmo tempo é aquilo que provoca
o interesse pela busca de reorganização dessa ordem alterada. Taille (1992)
escrevendo sobre a importância de se promover na escola desafios cognitivos
para que a criança transponha seus próprios limites, responde o que se entende
por desenvolvimento: “Ora, o que é desenvolver-se e aprender? É justamente se
descentrar, abrir horizontes, construir novas estruturas, mais ricas e mais
complexas”.
Material e método:
O presente trabalho teve a intenção de apreender
a relevância dos contos de fadas para os docentes da Educação infantil; não
somente como contribuição para o aprendizado da leitura e escrita,
entretenimento e prazer, mas levando em conta a sua importância para o
desenvolvimento psíquico, para a resolução de problemas internos, constituição
de subjetividade e personalidade sadia das crianças. A pesquisa e estudo
estruturam-se em quatro partes: a primeira refere-se ao estudo bibliográfico do
tema no percurso histórico da literatura infanto-juvenil, relatando a origem e
a história dos contos de fadas. A segunda parte relata a influência dos contos
de fadas no desenvolvimento da leitura infantil. E a terceira fala da criança e
o cognitivo relacionando o tema a seu desenvolvimento e aprendizagem. A quarta
16430 parte é a pesquisa amparada no construtivismo social (ALVES MAZZOTTI e
GEWANDSZNAJDER) qualitativa (discursos e opiniões docentes sobre o tema. BARDIN
(1977) e quantitativa (análise das frequências das evocações de palavras
descritoras sobre o sentido e significado dos contos de fadas- ABRIC (1994);
sobre a as representações sociais da relevância deste instrumento pedagógico no
cotidiano escolar. Para nortear a investigação, foram formuladas as perguntas
de pesquisa: a importância dos contos de fadas; os contos de fadas funcionam
como instrumentos para a descoberta de sentimentos como ódio, inveja, ambição,
rejeição e frustração na vida da criança. Como referencial teórico foi
utilizado às concepções de Abramovich (2005), Amarilha (1997), Áries (1978),
Bettelheim (1980), Cademartori (1986), Coelho (1995), Darnton (1988), Diogo
(1994), Ginzburg (1998), Granadeiro (2005), Gutzat (1986), Lajolo (2001), Silva
(1986), Tavares (1974), Warner (1999). Como aporte metodológico teve a teoria
das Representações Sociais como referencial de pesquisa nos trabalhos de Abric,
(1994), Alves-Mazzotti, (1994), Moscovici (1978). As representações Sociais são
um conjunto de explicações, crenças e ideias que nos permitem evocar um dado
acontecimento, pessoa ou objeto. São resultantes da interação social, porque
são comuns a um determinado grupo de indivíduos. Para o romeno Serge Moscovici
(1961/1978) as Representações Sociais são meios de recriar realidades buscando
torná-las senso comum. O estudo de como e porque as pessoas partilham estes
conhecimentos de senso comum, é um objeto de estudo muito rico para ser apurado
pela psicologia social, despertando o interesse sobre os processos do
conhecimento (sua gênese, transformação e projeção na sociedade). As
Representações Sociais são como uma rede de ideias, metáforas e imagens que são
interligadas livremente em maior ou menor intenção, tratando o pensamento como
um ambiente, como uma atmosfera social e cultural. Possuem duas funções: tornar
convencional ou tradicional, objetos, pessoas ou acontecimentos desconhecidos
por nós. Cada experiência acrescenta novas ideias, imagens e metáforas,
colocando os elementos, objetos ou ocorrências, em categorias distintas. Somos
condicionados tanto por nossas representações quanto por nossa cultura; as
Representações Sociais são prescritivas, ou seja, se impõem sobre nós com força
irresistível, já encontramos as respostas prontas no mundo cotidiano. 16431 A
teoria das Representações Sociais destaca os conceitos como se fossem
fenômenos, pois, estes não ficam estáticos ou estagnados por muito tempo, ou
seja, estão sempre sendo transformados e desenvolvidos cientificamente no nosso
cotidiano.
Resultados obtidos:
Uma representação é sempre uma representação de
algo para alguém. É sempre de caráter social. Esta colocação conduz a um status
novo na identificação da realidade objetiva que é definida mediante os
componentes determinantes da situação e do objeto. Não existe realidade
objetiva a priori porque toda ela é representada, apropriada pelo indivíduo e
seu grupo e reconstruída em seu sistema cognitivo, integrada a um sistema de
valores, que dependem de um contexto social e ideológico onde ela circula. Esta
realidade apropriada reestruturada constitui a realidade mesma. Moscovici
(1978) sistematiza tais fundamentos, recorrendo a dois processos a objetivação,
que esclarece como se estrutura o conhecimento do objeto. Reabsorvendo o
excesso de significações. A ancoragem é o outro processo, aquele que dá sentido
ao objeto que se apresenta à nossa compreensão. Trata-se da maneira pela qual o
conhecimento se enraíza no social e volta a ele, ao converter-se em categoria e
integrar-se à grade de leitura do mundo do sujeito, instrumentalizando o novo
objeto. Na “objetivação” materializa-se o abstrato, tornando-o concreto, as
idéias são percebidas de modo real o conceito transforma-se em imagem.
1-Na
resposta do questionário semi-estruturado da pesquisa pode-se registrar como
representações do grupo das professoras entrevistadas sobre a importância dos
contos de fadas que: eles permitem a criança se projetar no outro, ato
fundamental para ela abandonar o egocentrismo. Afirmam (10%) que contribuem
através da fantasia para uma maior tolerância no cotidiano, acreditando que o
melhor ainda estar por vir. Eles ajudam a encarar a realidade e dão aos
ouvintes poderes. Recordaram experiências vividas (20%) ao afirmarem que eles
permitem deixar a imaginação livre para ser e para criar A pesquisa revelou que
(30%) das professoras ainda associam as atividades da educação Infantil a uma
preocupação pedagógica, ao colocar que: “Contar histórias não é um ato simples,
mas sim uma arte que pode ou não contribuir na aprendizagem da criança. Todas
reconhecem a importância deste tipo de literatura: “A visão literária dos
contos de fadas atualiza ou reinterpreta os conflitos de poder e de formação de
valores, através da mistura de realidade 16432 com fantasia, pois lidam com a
sabedoria popular, com conteúdos essenciais das condições humanas, perpetuadas
até hoje: amor, medo, carência, perdas, solidão, dificuldades e descobertas de
ser criança”. Como elementos que estimulam o desenvolvimento infantil a
desenvolvem a imaginação, ajudam a construir valores; promover um aprendizado
de maneira lúdica. Trabalham também a interação. Proporcionam prazer”. São
ricos em magia e fantasia, o que possibilita a criança fazer uma viagem no
universo de heróis, princesas, bruxas, florestas e castelos, desenvolvendo
assim a criatividade, a imaginação, a concentração e a empatia, no momento em
que as crianças sentem e vivem as situações das narrativas”. Como formativos a
Professora 11 ressalta que: “Existe uma força maior na figura do herói que
sempre irá triunfar no final, não importa o quanto árduo tenha sido o seu
caminho percorrido, no final os honestos e puros de coração sairão vencedores,
levando a crer que a maldade não compensa, por maior que seja seu sofrimento e
suas angústias, sempre existirá um conto de fadas capaz de lhe trazer a paz
perdida.”
Em relação à segunda questão: Os contos de fadas funcionam como
instrumentos para a descoberta de sentimentos como ódio, inveja, ambição,
rejeição e frustração na vida da criança? Os contos de fadas influenciam na
formação da personalidade infantil? Por quê? Todas reconhecem o valor dos
contos de fadas e completam que: “Os contos de fadas exercem uma influência
muito benéfica na formação da personalidade porque, através da assimilação dos
conteúdos, as crianças aprendem que é possível vencer os obstáculos e saírem
vitoriosas, especialmente quando o herói vence no final”. “A descoberta do
ódio, inveja, ambição e outros sentimentos negativos fazem com que a criança
aprenda a diferenciar o certo do errado e entender que precisamos de superação
para buscar a felicidade. Sim, porque concretiza símbolos capazes de auxiliar o
emocional”. Mas também demonstram certo receio quanto ao uso deste tipo de
literatura: “Porque se não forem bem trabalhados levam as crianças a pensar que
a vida real pode também ser como nos contos de fadas”.
Em relação à terceira
questão: Segundo o psicanalista Bruno Bettelheim (1980), os contos de fadas são
a chave para ajudar as pessoas a desembaraçar os mistérios da realidade. A
psicanálise afirma que os significados simbólicos dos contos maravilhosos estão
ligados aos eternos dilemas que o homem enfrenta ao longo de seu amadurecimento
emocional. Você concorda com esta afirmação? Justifique. 16433 “Os contos de
fadas” podem ser um suporte para várias situações, mas não somente a “chave” para
ajudar pessoas a desembarcar os mistérios da realidade. “O amadurecimento
emocional acontece pela interação que a criança desenvolve no processo de sua
ação sobre o mundo”. Os dilemas enfrentados pelo homem nem sempre têm um bom
final. O simples fato de trazer a mensagem da vitória do bem sobre o mal faz
com que a criança, façam a transposição para sua realidade atual”. “Quando
trabalhado de modo correto ajudam as crianças a enxergarem que todos têm
dificuldades e que as dificuldades podem ser superadas com esforço”. “O
significado simbólico- a fantasia facilita a compreensão da criança
desembaraçando os mistérios da realidade”. “Os contos de fada geralmente tratam
de dilemas do nosso cotidiano e, muitas vezes, procuramos auxilio nos desfechos
que possam nos amparar em decisões difíceis”.
Em relação à quarta questão Como
são trabalhados os contos de fadas em seu fazer pedagógico? “Através da
leitura, reconto, mudar final da história, criação der outros personagens,
moral da história, ilustrações, teatro, fantoches, parte que mais gostou,
filmes etc.” “Estimulando as crianças a falarem sobre angústias, partilhar suas
dúvidas e ansiedades sem se expor pessoalmente, não diretamente de si própria
utilizando o recurso dos personagens e de uma situação fictícia como apoio. No
cálculo da frequências das evocações sobre os contos de fadas registramos as
evocações: fantasia (32). Imaginação (16), crescimento (14), superação (12),
valores (12), encantamento (11), sentimento (11), conhecimento (9), felicidade
(8), criatividade (4), esperança (4), infância (4), ludicidade (3), liberdade
(2), mistério (1) que reforçam as opiniões colhidas no questionário. Os contos
de fadas não descrevem o mundo de acordo com a simples realidade objetiva. (o
que justifica a evocação fantasia e imaginação). Através de sua riqueza
simbólica, descrevem a realidade subjetiva da mente humana. Isso os torna mais
verdadeiros, pois faz refletir sobre os aspectos mais obscuros da psique, que
não podem ser alcançados diretamente através do pensamento consciente. Esse
poder de atuação dos contos de fadas é maior ainda para o pensamento infantil,
pois, se o adulto tem dificuldade em aceitar e enfrentar suas próprias
incertezas expressas nas aventuras dos contos, a criança é imediatamente
captada pela beleza e a linguagem destes, que muito se aproxima de seu próprio
mundo inconsciente. Por isso, ao ouvir contos, o psiquismo da criança se
desenvolve. (evocação: crescimento e superação). Primeiramente, porque ela tem
o desafio intelectual de compreender uma narrativa tão rica, intrincada e bem
urdida, como a dessas histórias, pedindo para ouvi-la 16434 várias vezes, até
alcançar este objetivo. E também porque, dominando o conflito da história, ela
está dominando seus próprios conflitos internos.
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Paulo: Pioneira-Thomson Leraning, 2001. AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas?
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